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A sexualidade nos adolescentes e jovens adultos com Perturbação do Espectro do Autismo

Atualizado: 14 de jul. de 2021

Resultados de um estudo publicado em julho de 2016 na Suécia


Durante décadas pressupôs-se que as pessoas com PEA teriam um insignificante interesse na relação com os outros pelos seus défices na reciprocidade social e nos aspetos implícitos na interação social. Erradamente, se concluía também que eram sexualmente imaturos e que manifestavam menos interesse e menos desejo sexual.


Por outro lado, embora alguns dos comportamentos sexuais das pessoas com PEA sejam socialmente apropriados, existem igualmente outros comportamentos que são frequentemente relatados e considerados como socialmente problemáticos.



os investigadores destacam que a sexualidade dos indivíduos com PEA não pode ser reprimida, ignorada ou esquecida e tem obrigatoriamente de ser alvo de intervenção ao nível das competências sociais e da educação sexual, desde as idades precoces.

O Gillberg Neuropsychiatry Centre, em colaboração com a Universidade de Gothenburg (Suécia), procurou analisar a sexualidade nos adolescentes e jovens adultos com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) e a possível existência de comportamentos sexuais desviantes (parafilias[i]) ou de comportamentos sexuais desadequados.


O objetivo deste estudo foi analisar a sexualidade de 108 indivíduos com PEA e Perturbação do Desenvolvimento Intelectual (PDI), questionando os pais e cuidadores sobre os seus comportamentos. Paralelamente foi avaliado um outro grupo, de 76 indivíduos com PEA sem Perturbação do Desenvolvimento Intelectual (PDI), questionando-os diretamente através do instrumento de avaliação SexQ (questionário de 14 itens desenvolvido especificamente para pessoas com PEA). Quando possível, os pais ou cuidadores dos participantes preencheram igualmente as perguntas da secção 8 da DISCO (Diagnostic Interview for Social and Communication Disorders) referentes a aspetos da sexualidade.


A análise averiguou a prevalência dos seguintes parâmetros: interesse sexual, orientação sexual, problemas relacionados com a sexualidade, comportamentos sexuais inapropriados e parafilias (entre as quais exibicionismo, voyeurismo, masoquismo, sadismo, fetichismo, …) e procurou examinar as relações entre comportamentos sexuais desadequados e parafilias com o género feminino e masculino, as competências cognitivas, as competências verbais, o comportamento adaptativo e o nível de gravidade da Perturbação do Espectro do Autismo.


Os resultados obtidos no estudo evidenciaram que:

· a grande maioria dos indivíduos relatou não experienciar nenhum problema com a sua sexualidade e nos demais as dificuldades sexuais relatadas foram semelhantes e equivalentes às dos pares sem PEA (prevalência no público em geral);

· a maioria dos participantes manifestou interesse sexual pelo sexo diferente do seu, mas um vasto número de indivíduos, sobretudo com PDI, não revelaram interesse sexual evidente;

· não se estabeleceu nenhuma relação entre comportamentos sexuais inapropriados e a idade, o género, as competências linguísticas, as competências cognitivas e o comportamento adaptativo dos indivíduos;

· um quarto dos participantes evidenciou comportamentos sexuais desadequados ou alguma parafilia, sendo o fetichismo[ii] a parafilia mais comum, seguindo-se do voyeurismo[iii];

· observou-se que as parafilias ocorreram mais frequentemente em indivíduos que manifestavam maior número de sintomas de PEA, mais limitações cognitivas e um nível de comportamento adaptativo mais reduzido.


Consequentemente os investigadores destacam que a sexualidade dos indivíduos com PEA não pode ser reprimida, ignorada ou esquecida e tem obrigatoriamente de ser alvo de intervenção ao nível das competências sociais e da educação sexual, desde as idades precoces. Tal permitirá reduzir a prevalência dos comportamentos inapropriados e no caso dos jovens e dos adultos que evidenciem parafilias, permitirá que os mesmos possam beneficiar, atempadamente, de intervenções e de programas específicos que previnam o desenvolvimento de outros problemas e riscos sociais.


É importante que os pais e os cuidadores compreendam que, pelas dificuldades ao nível do pensamento crítico, da compreensão das componentes sociais e da comunicação não-verbal, estes jovens necessitam de ajuda para aprender a gerir os seus impulsos sexuais sem prejuízo da sua satisfação e da sua aceitação social. Caso contrário, o facto de se sentirem frustrados, confusos e inseguros poderá desenvolver outros comportamentos problemáticos como a violência.


No futuro, será fundamental desenvolver outros estudos que procurem compreender as diferenças ao nível dos comportamentos sexuais das raparigas e rapazes, pois o facto de o número de raparigas e de jovens adultas diagnosticadas com PEA ser ainda muito reduzido, dificulta a investigação. Será igualmente fundamental e benéfico, analisar as componentes positivas da sexualidade, tais como, o conhecimento sobre a sexualidade, os pensamentos, os afetos e os comportamentos sexuais (com o parceiro ou quando sozinho) ao longo das diversas faixas etárias, sobretudo para promover um desenvolvimento sexual saudável segundo as necessidades específicas destas pessoas.


Para mais informações não deixe de ler o artigo completo em:


texto já publicado por mim na Revista Descubra as Diferenças, Nº19, de maio de 2017


[i] Parafilia – distúrbio que causa sensação de angústia pessoal sobre o seu interesse sexual atípico, não apenas pelo sofrimento resultante da desaprovação da sociedade face ao mesmo, ou que conduz ao desenvolvimento de um desejo ou comportamento sexual que envolva o sofrimento psicológico, lesões ou morte de outra(s) pessoa(s), ou à prática sexual que envolva pessoas sem o devido consentimento ou que sejam incapazes de dar o seu consentimento legal.

[ii] Fetichismo - Uso de objetos inanimados para obtenção de excitação sexual [iii] Voyeurismo - Observar uma pessoa durante um momento íntimo, de nudez ou em práticas sexuais, sem o seu devido consentimento

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